É difícil falar sobre um assunto que está presente em nossas vidas mas, que na maioria das vezes por não aceitarmos acabamos evitando até de falar sobre: A MORTE. Fomos criados em uma cultura ocidental que não nos prepara para o momento da separação dos nosso entes queridos. Queira ou não queira é algo que não temos como fugir e ainda assim, tendo essa certeza, aceitar a separação é muito difícil e dolorido.
É como me lembrou uma amiga de infância quando me disse: "Você já percebeu que quando temos alguém que amamos as coisas de que essa pessoa gosta como comidas, roupas, seus costumes não nos fazem lembrar tanto dela como acontece logo depois que se vão? Talvez pelo fato de não as esquecermos mesmo, isso ocorra para nos lembrarmos sempre dela”.
Esta é sem dúvida uma realidade nua e crua. Passamos despercebidos por estas situações quando as pessoas que mais amamos estão em nosso convívio, mas quando elas se vão, tudo que gostava de fazer nos faz lembrá-la.
Por isso, muitas pessoas talvez tomem atitudes radicais afim de evitar esse sofrimento como, por exemplo, retirar do armário todas as roupas, das estantes as fotos, da sala os objetos, enfim, e assim por diante.
Para quem fica, cada elemento nos remete à lembrança da pessoa e à certeza de que não voltará mais ao nosso convívio. Outras pessoas já preferem manter tudo como antes, o que causa ainda mais dor e sofrimento, pelo menos essa é a minha opinião.
Este final de semana passei por essa situação, e não foi a primeira e nem será a última vez. Meu tio faleceu aos 57 anos vítima de um tumor no fígado, ele e minha mãe eram muito ligados, diria até que os mais próximos de toda a família Lima. Morei na casa dele por alguns anos e foi lá que tomei gosto pelos estudos, aprendi o verdadeiro valor da aprendizagem e talvez tenha me tornado quem eu sou hoje, essa pessoa que vos relata...
Ele começou a sentir fortes dores e quando foi buscar tratamento já estava em estado avançado da doença. Não demorou mais que dois meses da descoberta ele veio a óbito. O sofrimento que a família esta passando é grande demais mas, com a graça de Deus iremos superar mais essa batalha da vida.
Às vezes me pego a perguntar porque tem que ser assim? Mas, a resposta só virá com o tempo. Me pego pensando se é realmente verdade tudo o que aconteceu. Quando durmo tudo passa, quando acordo tenho a sensação que nada é real.
Desde o dia da fatalidade, desde a perda, tenho tido sonhos em que meu tio parece ainda estar vivo. O mesmo acontece com o meu pai que faleceu há 10 anos, muitos dos sonhos que tenho com ele a sensação é que está ali na minha frente, tudo muito real, mas ao acordar, descubro novamente que nada é verdade e a dor da perda volta a latejar no peito.
Eu não acreditava que isso pudesse acontecer, os médicos já tinham me avisado e eu não acreditava e não queria aceitar. Achava que meu tio iria se recuperar logo para voltar a fazer todas as brincadeiras e a falar tantos quantos apelidos ele colocou em toda a nossa família. Cada um tinha um apelido colocado por ele, mas só ele nos chamava assim. Ele também era bem severo quando tinha de ser e de acordo com o que ele acreditava e pensava, as vezes radical demais, mas era a forma com que ele levava a vidae tinha de demonstrar que nos amava.
Iremos sentir muito a falta do tio JOÃO BOSCO DE LIMA. Passamos bons e maus momentos juntos, eu e todos que o cercavam.
Espero um dia na vida espiritual que possamos nos reencontrar. Vai com Deus e tenha a certeza de que todos os seus ensinamentos, advertências, brincadeiras, palhaçadas, bondade infinita irão ficar para sempre em meu coração, por mais que as vezes tenha sido 'um rebelde' - como ele mesmo disse na última vez que nos falamos-, mas tudo que vivemos ficou e está guardado em meu coração.
Escrevo isso apenas para expressar um pouco da dor que sinto, e quem sabe, ao externá-la, ter ao menos uma sensação de alívio...
Willian Fidelis de Lima
